quarta-feira, 13 de abril de 2011

LABORATÓRIO OLÍMPICO – Treinamento Esportivo e Sistema Imune

LABORATÓRIO OLÍMPICO – Treinamento Esportivo e Sistema Imune

De acordo com Forteza de La Rosa, o objetivo máximo do treinamento esportivo é obter o “triunfo competitivo”, mas, para isso, o atleta deve alcançar grande nível de preparação. Numa perspectiva puramente fisiológica, tal “preparação” resulta da adaptação dos diferentes sistemas corporais ao estímulo de treinamento.

Em alguns casos, os sistemas afetados e as modificações produzidas pelo treinamento esportivo são facilmente verificáveis. Exemplos clássicos são as alterações no sistema cardiovascular e no sistema neuromuscular. Já em outros, as características intrínsecas de determinados sistemas corporais fazem com que suas respostas ao treinamento não sejam fáceis de serem mensuradas (não pelo menos sem o uso de equipamentos e métodos razoavelmente complexos). Este é o caso do sistema imunológico (SI).

Uma das dificuldades para se entender as respostas imunes ao exercício é a complexidade do próprio SI, afinal, seus componentes são tão diversos quanto a pele, as enzimas, os complexos protéicos e diferentes tipos de células, essas últimas particularmente, nem de longe apresentam um padrão razoavelmente uniforme de resposta ao exercício. Entretanto, para o objetivo do presente texto pode-se assumir que o SI é capaz de distinguir entre os componentes normais de nosso corpo e elementos estranhos a ele (que podem ser desde uma bactéria até um órgão recebido por transplante [não é sem motivo que transplantados usam imunossupressores]).

Independentemente de quão desconhecido para nós e complexo possa ser o SI, não se deve esquecer que para ele também vale o princípio: a aplicação inadequada do estímulo de treinamento resulta em condições negativas! Sem dúvida, a mais temida é o overtraining; caracterizada por redução da performance e a sensação de fadiga. A presença de infecções do trato respiratório superior (ITRS) observadas em maratonistas e nadadores de longa distância com overtraining levou à crença de que esta condição causa imunossupressão.

Nesse contexto, o entendimento adequado dos fatores que regem a capacidade do SI adaptar-se ao exercício é fundamental para potencializar as chances de obtenção do “triunfo competitivo”, minimizando concomitantemente a ocorrência de imunossupressão. Uma crença bastante usada com essa intenção é a de que exercícios de intensidade moderada seriam capazes de aumentar a imunidade enquanto os exercícios intensos fariam o contrário. Infelizmente, tal crença leva à interpretação errada dos efeitos do exercício sobre o SI. Quando a literatura científica sugere que o exercício intenso pode causar imunossupressão significa que altas cargas, pouco descanso, competição, cobranças externas, isto é, um contexto inadequado de treinamento físico pode afetar o SI, não uma sessão aguda de exercício. Ou seja, que fique claro que a realização de sessões intensas de acordo com a capacidade de o indivíduo assimilar tais cargas não é, de forma alguma, prejudicial.

Por outro lado, fatores como recuperação insuficiente de uma sessão prévia de treinamento físico, baixa disponibilidade de carboidratos, condições de hipóxica, estresse pelo calor realmente afetam a imunidade e devem ser levados em conta.

Vale destacar também que até recentemente todas as formas de estresse eram pensadas como sendo imunossupressoras. Entretanto, descobriu-se que tanto o tipo quanto o grau de estresse são importantes na determinação do efeito final do estímulo sobre o SI (isto é, supressão ou estimulação). Ou seja, não só a intensidade, duração e freqüência do estímulo que importam, mas também o quão “estressante” o exercício é “visto” pelo indivíduo. Fica então o aviso de que muitas condições externas ao ambiente de treinamento e que levam à redução da motivação (ex. problemas familiares) podem levar à imunossupressão, mesmo quando as demais características do treinamento estão adequadas.

Alguns autores têm sido bem sucedidos em relacionar o comportamento da CIT com alterações relevantes na função imune. Por exemplo, Foster verificou que a maior incidência de infecções leves estava associada aos momentos que atletas ultrapassavam um certo limite individual quanto à magnitude da carga de treinamento. Entretanto, outros autores não foram capazes de associar diferenças de milhagem, intensidade ou carga com a ocorrência de infecções respiratórias em corredores de meia e longa distância altamente treinados.

Apesar da controvérsia sobre o efeito da manipulação das cargas de treinamento é fundamental que os técnicos/ preparadores físicos realizem o controle adequado dos estímulos aplicados a fim de que os mesmos não causem adaptações indesejadas como a imunossupressão.

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FONTE: TAEKWONDO NEWS
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Reury Frank Pereira Bacurau
Prof. Doutor do Curso de Ciências da Atividade Física Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH – USP)

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